A nós, católicos, era-nos pedido recolhimento e silêncio nesta Quaresma e a vivência da ressurreição de Cristo no interior das nossas casas. Se vontade houvesse, e havia, de beijar a Cruz, era-nos aconselhado pegar no crucifixo que em cada lar cristão deve existir, e beijá-lo em família, apenas as pessoas que residem connosco.
Mas, se a maioria viveu deste modo este dia santo, outros houve, leigos e padres, que acharam por bem transformar em palhaçada o que se esperava e desejava ser de vivência cristã doméstica e anónima, em obediência ao bispo e ao Papa.
E viram-se cruzes em automóveis percorrendo paróquias, cruzes a serem beijadas entre vizinhos, cruzes dadas a beijar em lares de idosos, cruzes de rua em rua. Isto tudo desrespeitando as ordens e conselhos das autoridades sanitárias e religiosas e até do próprio Presidente da República, que havia posto restrições à liberdade de culto e de livre circulação.
E em nome de quê se cometeram estas loucuras, estas encenações raiando a comédia, este transformar um ato solene como o de receber o Senhor em nossas casas e beijar a Sua Cruz, em alimento de jornais e noticiários televisivos, sem falar no falatório que se vê nas redes sociais?
Em nome de que fé, de que religião? Não sabem que a presença divina está para além da cruz que beijamos com devoção em cada Páscoa? Que Deus está presente em cada um de nós? Que é no interior de nós próprios que melhor o encontramos? Que a religião e a Fé não precisam de exibicionismos mas de recolha interior e oração?
Parece que depois desta Quaresma sem procissões, sem Via-Sacra, sem Eucaristia, não aprendemos nada nem percebemos ainda a dimensão do momento histórico que estamos a viver e o terrível flagelo que nos ameaça.
Para viver a Fé é preciso saber obedecer, acatar conselhos de quem está acima de nós, mas sobretudo, orar e confiar no Senhor, que nunca nos abandona, com o sem cruz a percorrer as casas e as ruas.
É-nos pedido recolhimento, confinamento, distanciamento social, quarentena, isolamento, higienização, desinfeção, tudo para nos protegermos a nós próprios e aos outros. Pela nossa saúde e pela saúde dos que amamos.
Deus entende tudo isso, Cristo não espera de nós o beijo que não podemos dar a ninguém. Sejamos coerentes e conscientes do momento que vivemos. Por nós, por todos.